A minha casa cercada de neve que continua a cair, serena e constante.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Neve real
Algodão doce,
sem doçura real,
quem foi que trouxe a este quintal?
Talvez uma fada
ou duende travesso
ou apenas S. Pedro
virado do avesso.
Fosse quem fosse
deu-me um presente.
No coração o guardei
e no olhar contente.
Neve...
O meu pequeno pinheiro mal podia com ela que caiu com força.
Gosto muito de ver nevar.
Como criança, colo a testa ao vidro da janela e deixo-me envolver pela sua magia.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
A vida de Natália - parte dois
Natália vivia um dia de cada vez, gerindo como podia a sua simples vida.
A mãe, Maria, andava sempre "por lá" a fazer cestas e cestos ou a recolher a verga das giestas e dos vimes.
A filha encarregava-se de gerir os pobres proventos da mãe. Ao mesmo tempo, ia zelando pelos seus, delas...
Tinham uma porca que, antes de a cevarem para a matança, lhes dava alguns leitões que tinham como destino a feira de Vinhais. Desses, deixavam sempre um ou dois para criar.
Anos havia em que a sorte ajudava e tudo corria de feição. Outros, eram aziagos e parecia que o trasgo andava por lá a matar os animais e a colocar à prova a sua capacidade de resistir.
Natália recordava-se de um período assim quando, com doze anos, se tinham visto, de um momento para o outro, quase nas vésperas da mata porca, sem o seu sustento para o ano inteiro e sem dinheiro para o poder repor. Morrera-lhe, durante a noite, sem que ninguém disso se apercebesse.
Perante tamanho desgosto, instalou-se o desespero. Nunca tinha visto a mãe tão triste e derrotada. Sabia que os produtos resultantes do seu trabalho se destinavam a muita gente. Maria tinha como hábito prover o sustento dos sobrinhos e de todos os que fossem mais necessitados do que ela.
Ainda hoje lhe dói o desgosto impotente da sua mãe que, vencida pela dor apenas repetia: "O que vai ser de nós? O que vai ser de nós? Meus filhos, meus filhos! Minha querida filha!"
Nesse dia, Natália decidiu tomar a seu cargo tudo o que dissesse respeito ao cuidado das coisas da casa e das poucas propriedades que possuíam. À mãe chegavam-lhe as cestas e todas as outras preocupações.
Esse ano foi difícil, mas não tão difícil como poderia ter sido. Eram transmontanas, do concelho de Vinhais e a solidariedade dos vizinhos, perante a desgraça, foi avassaladora. De tudo um pouco lhes foi aparecendo em casa, à medida que decorriam as mata porcas das pobres pessoas da aldeia, sim, porque ricos, não havia nenhum, apenas alguns mais desafogados.
Todos, sem exceção, uns, uma meia dúzia de alheiras, outros, um cibinho de carne gorda, outros, uma pequena bola de unto... levaram a prova das suas matanças.
Menina, ainda, Natália assumiu responsabilidades muito acima das que seriam próprias da sua idade. Inteligente como era, não tardou a entender a orgânica da lavoura e da criação e cuidado dos dois ou três porcos, algumas galinhas, poucos perus e um burro que era o seu bem mais precioso.
Foi vendo e aprendendo. Pedia ajuda sempre que necessitava e todos, por verem o seu esforço e empenho, ajudavam. Os primos, mais velhos do que ela, sempre que não estavam a servir, ajudavam-na. A mãe, vendo que a filha era competente, foi-lhe entregando o mando até não mais se importar com nada, a não ser as épocas da apanha da castanha, da azeitona, das nozes...
Os dias passavam, uns devagar, outros tão rápido que nem dava por eles.
Vivia um dia de cada vez, como se nada mais existisse para além do seu microcosmos. Não era feliz mas, também, não era triste embora o seu olhar negro vivesse ensobrado por uma ligeira nostalgia onde cintilavam sonhos por realizar.
Maria Videira (Mara Cepeda)
A mãe, Maria, andava sempre "por lá" a fazer cestas e cestos ou a recolher a verga das giestas e dos vimes.
A filha encarregava-se de gerir os pobres proventos da mãe. Ao mesmo tempo, ia zelando pelos seus, delas...
Tinham uma porca que, antes de a cevarem para a matança, lhes dava alguns leitões que tinham como destino a feira de Vinhais. Desses, deixavam sempre um ou dois para criar.
Anos havia em que a sorte ajudava e tudo corria de feição. Outros, eram aziagos e parecia que o trasgo andava por lá a matar os animais e a colocar à prova a sua capacidade de resistir.
Natália recordava-se de um período assim quando, com doze anos, se tinham visto, de um momento para o outro, quase nas vésperas da mata porca, sem o seu sustento para o ano inteiro e sem dinheiro para o poder repor. Morrera-lhe, durante a noite, sem que ninguém disso se apercebesse.
Perante tamanho desgosto, instalou-se o desespero. Nunca tinha visto a mãe tão triste e derrotada. Sabia que os produtos resultantes do seu trabalho se destinavam a muita gente. Maria tinha como hábito prover o sustento dos sobrinhos e de todos os que fossem mais necessitados do que ela.
Ainda hoje lhe dói o desgosto impotente da sua mãe que, vencida pela dor apenas repetia: "O que vai ser de nós? O que vai ser de nós? Meus filhos, meus filhos! Minha querida filha!"
Nesse dia, Natália decidiu tomar a seu cargo tudo o que dissesse respeito ao cuidado das coisas da casa e das poucas propriedades que possuíam. À mãe chegavam-lhe as cestas e todas as outras preocupações.
Esse ano foi difícil, mas não tão difícil como poderia ter sido. Eram transmontanas, do concelho de Vinhais e a solidariedade dos vizinhos, perante a desgraça, foi avassaladora. De tudo um pouco lhes foi aparecendo em casa, à medida que decorriam as mata porcas das pobres pessoas da aldeia, sim, porque ricos, não havia nenhum, apenas alguns mais desafogados.
Todos, sem exceção, uns, uma meia dúzia de alheiras, outros, um cibinho de carne gorda, outros, uma pequena bola de unto... levaram a prova das suas matanças.
Menina, ainda, Natália assumiu responsabilidades muito acima das que seriam próprias da sua idade. Inteligente como era, não tardou a entender a orgânica da lavoura e da criação e cuidado dos dois ou três porcos, algumas galinhas, poucos perus e um burro que era o seu bem mais precioso.
Foi vendo e aprendendo. Pedia ajuda sempre que necessitava e todos, por verem o seu esforço e empenho, ajudavam. Os primos, mais velhos do que ela, sempre que não estavam a servir, ajudavam-na. A mãe, vendo que a filha era competente, foi-lhe entregando o mando até não mais se importar com nada, a não ser as épocas da apanha da castanha, da azeitona, das nozes...
Os dias passavam, uns devagar, outros tão rápido que nem dava por eles.
Vivia um dia de cada vez, como se nada mais existisse para além do seu microcosmos. Não era feliz mas, também, não era triste embora o seu olhar negro vivesse ensobrado por uma ligeira nostalgia onde cintilavam sonhos por realizar.
Maria Videira (Mara Cepeda)
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