terça-feira, 16 de abril de 2013

A vida de Natália, parte 4


Se não fosse pela hora tardia, sairia, com certeza, para a noite escura como breu.

O medo de si mesma prendia-a naquela cadeia de dor.

Ansiava ar puro, liberdade, insensatez...

Sentia que o coração não resistiria a tamanha dor, a tamanha afronta.

Explodia, por dentro, desfeita em pedaços.

Nunca voltaria a ser a mesma.

Era impossível, tão absurdamente impossível, como naquele momento se fazer dia de sol incandescente.

Quebrara-se o elo que ela julgava indestrutível, inabalável como o seu amor.

Precisava gritar.

O silêncio era uma tortura insuportável.

Um grito na noite.

Apenas um, mas que fosse único e irrepetível.

Sentia-se vácuo, buraco negro, medonho fim... nada.

Como conseguiria apanhar os estilhaços da sua dor?

Como poderia, alguma vez, recompor-se?

"E tudo o vento levou" em câmara lenta, muuuiiito lenta.

Teria de se levantar quando raiasse a manhã.

Era necessário fingir que continuava viva.

Procuraria juntar os pedaços de si mesma como num puzzle de infinitas e minúsculas peças imprecisas.

Teria toda a sua vida para o fazer... 

 
Maria Videira (Mara Cepeda) 

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