Faço planos. Tudo tem de ser milimetricamente organizado. Se chove, que chatice! Vou buscar a gabardina e o chapéu. Coloco um lenço de seda ao pescoço e saio para a rua.
Salpicos daqui, salpicos dali, logo fico com as calças molhadas. As botas, de si, bem engraxadas, cumprem a função de manter os pés secos, talvez frios, sabe-se lá! Pequenas gotas escorrem pelo impermeabilizado da gabardina.
Zurzida a vento vem a chuva de maio. Estou molhada. Nada a fazer. Ficarei molhada e fria até que a roupa seque no meu corpo. Agora é o trabalho que está em primeiro lugar, também milimetricamente pensado. É necessário imprimir documentos de vital importância para o projeto. Avariou a impressora... pior que chuva fria, zurzida pelo vento inclemente.
Faço planos como quem não tem planos. Existo um dia de cada vez, pé ante pé pelos caminhos tortuosos da vida. Linear, só a vontade, por breves e fugazes momentos.
Sou peça insignificante nesta engrenagem universal, pequena partícula invisível... nada, para além de fingir que sou.
Maria Videira (Mara Cepeda)
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