antes da minha existência
no útero da minha mãe?
São elas que tão dolorosamente me escapam
através do suor que, da minha doce pele de mulher, emana.
E mãe sou dos filhos que não terei,
tempos de ternura,
de carinho,
tão limpo e suave como a canção da chuva que,
mansamente,
cai dos telhados adormecidos num dia triste/alegre de Outono,
envolto em perfumes de Primavera.
Que as minhas palavras embalem e serenem angústias
que, porventura, vidas
desavindas,
tragam em carrosséis de emoções à flor da pele.
A palavra é tudo. É silêncio quando o ruído impera.
É aurora quando raia o dia…
Mostra-nos tal como somos e estamos.
É a amiga que, num murmúrio, me dá guarida
naquele momento de séria tristeza.
É a alegria que sinto quando uma voz já antiga,
me conta uma história de
bruxas malvadas,
maçãs vermelhas e envenenadas,
que o amor liberta com a expressão:
“Tão linda!”
Mas se a palavra fosse apenas isso, melodia,
feitiço,
lua cheia,
voz de comando,
sorriso…
seria pobre,
avara,
andrajosa,
uma concha vazia na areia da praia…
É o menino que balbucia,
a soprano que canta a sua peça favorita,
o marulhar da água nas pedras limpas do rio, o sussurro do vento nas espigas de trigo,
o trautear de uma canção
que se ouviu de manhã cedo
ao acordar
e que nos acompanha durante todo o dia,
o soluço que o peito já não pode calar…
A palavra é o silêncio de um dia de chuva,
quando a noite tarda a chegar.
Não existe quando a alma está deserta de música.Maria Videira (Mara Cepeda)
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