"Estou prenha, Engrácia. Sei que estou... e agora ele vai embora. O que será de nós?"
"Fala com ele. Diz-lhe isso."
Natália chorava. Não sabia como reagiria a sua mãe. Naquele tempo, a desonra por se ter um filho fora do casamento, era como entrar na Idade Média.
Sabia que não ia ser fácil. Tinha, no entanto, algumas armas que, contava, lhe poderiam valer. Era boa rapariga e todos sabiam que nunca tinha tido mais ninguém. José fora o seu primeiro e único namorado. Se não fosse a família, já poderiam estar casados mas, para os padrões de então, ela não estava à altura dele. Era pobre. Não tinha um pai que a defendesse. A sua casa seria, por ventura, uma das mais abastadas da aldeia em termos de alimentação. Não lhe faltava que comer. Não havia dinheiro, nem grandes terras, nem grandes alianças.
A sua querida e trabalhadora mãe, órfã desde tenra idade, tinha sobrevivido com muita luta. Fora enganada, haviam-lhe suprimido os seus bens e ela não tinha quem por ela pudesse ou quisesse pugnar. Os melhores bocados da herança, engrossaram o rol de bens do cunhado.
Natália fazia o que podia. Trabalhava as poucas terras que tinham com o apoio intermitente dos primos e do irmão. Não lhes faltavam as batatas, o feijão, as cascas, os erbanços..., havia sempre umas couves de inverno e o mais que davam as hortas no tempo delas.
Tinham nozes e figos secos para os dias frios de inverno, as castanhas piladas que se aguentavam até ao verão, as azeitonas curadas na perfeição e o fio de azeite proveniente das poucas oliveiras que tinham.
Normalmente criavam uma ou duas porcas que sempre rendiam uns leitõezinhos e o rico fumeiro vinhaense e todos os derivados deste imprescindível animal que faziam a diferença entre a fome e a fartura.
Na capoeira, sempre uma meia dúzia de pedrezas e um belo galo cobridor. Não faltavam os ovos e os pitos sempre que havia uma necessidade. Criavam, também, alguns perus, delicados de criar. Era necessários apanhar as urtigas com que faziam a papa que, por vezes, era necessário enfiar-lhes pelas goelas abaixo enquanto eram pequenos...
O resto, vinha do trabalho da mãe, a tia Maria cesteira, à qual pagavam em géneros e, às vezes, com algum dinheiro.
Definitivamente, viviam melhor do que muitas famílias mais abastadas da aldeia. Não tinham luxos e o pão que comiam era o amargoso centeio, quase intragável. Ainda hoje não o come, embora não tenha nada a ver com o centeio da sua infância e juventude.
As lágrimas não paravam de lhe sulcar o rosto jovem e belo. Era, definitivamente, bela...
Maria Videira (Mara Cepeda)
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