terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Serenidade


Não há céu mais azul

Que o céu que me encanta

Onde vivo contigo

No dia que passa

E a noite levanta.

 

E na noite azul

Os arraiolos cantam

A canção que sabem

Que ninguém ensinou

Na voz que não têm

Que o dia levou.

 

A voz que Deus lhes deu.


Maria Videira (Mara Cepeda)

Medo


Medo.

Fadiga,

Que a cor não reflecte

Na angústia do branco

Escrito de verde.

 

Secou as lágrimas

À manga do casaco

Escondeu o vermelho

Que raiava o olhar

E partiu para sim

Te encontrar.

 

Não sabes que a dor

Para além de oprimir

Impede o grito

Que não podes ouvir.

 

E o teu sorriso torto

Que eu mais adivinho

Por entre aparatos

De lutas sem fim

Grita a cor

Deste negro festim.


Maria Videira (Mara Cepeda)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Fantasia


Aragem de frescura

Anoitece o Verão,

Em horas que agora são.

E o pejo do dia

Mal se alumia

Na hora não tardia

Que finge noite.

Negra melodia

No resvalar

Da asa do morcego

Que circum-navega

A roçar o medo.

E no recomeço

Ao raiar o dia

Tenho o que mereço

Pequena cotovia

Do melhor Segredo

A minha fantasia.


Maria Videira (Mara Cepeda)

Não tenho respostas


Os momentos são outros,

E os mesmos.

Vão e vêm

E tudo se repete

Entontece.

 
Conjunturas,

Ocasiões,

Tempos...

Horas,

Dores,

Lamentos...
 
 
Não tenho respostas
 
Mas tenho tormentos.


Maria Videira (Mara Cepeda)

Outono


O vento

Sopra

Balança

Sacode

Luta

Com a resistência das folhas

Passadas

Vencidas

Caducas

Corruptas

Que se camuflam de verde.


Maria Videira (Mara Cepeda)

O amor é quase uma prisão


De soslaio

Na esquina

Esgazeiam o olhar

Que anseia

Menina,

Por te ver passar.

 

O amor é quase uma prisão.

 

Vivem enclausurados 

Na mais alta torre

De imaginários cárceres 

Castelos medievais.

 

Escava fossos de proteção.

 

A ferrugem dilacera

A engrenagem

Que, moribunda

E austera

É disfuncional.

 

O coração ensombrece.

 

A paz

Lentamente

Escurece.

Desce dos telhados,

Das paredes,

Quase chão.

 

O pôr-do-sol diz que não.


Maria Videira (Mara Cepeda)

domingo, 26 de janeiro de 2014

Dor

Dor.
Inconsciente dor.
Vegeta somente
Uma vida sem cor.

Na impossibilidade
De viver sem ideais
Não há vazios
De acabar,
De preencher.

No vácuo que existe
E é triste
Vivem o negro,
Duro viver
As toutinegras
Que não tentam ser.

Planta não é.
Pode mover-se
Fingindo marés
Em prisão contida
Sem riso nem vida.
Vegeta somente
A pedir guarida.

Sem voz,
Garganta
Enclausurada,
Rumoreja,
Não sabendo porquê
O que a alguém
Sobeja.

Descoberta a razão
As coisas acontecem
Porque sim, porque não
E olhar sem ver
É olhar para mim
E apenas olhar
O mesmo olhar assim.

Sem direitos seus,
Olhos vendados
Para evitar dispersão
É preciso ver sempre
Na mesma direcção.

Olhar prá frente
Para trás é que não!
Olhar para o lado
É perder o norte
É sonhar ilusão.

É intuir outras vidas
Aspirar vagos perfumes
De deusas iguais.
É ter nos teus braços
Sabores irreais.

É ser quem se é
E tentar até
Que a vida sorria
Aquilo que não é.


Maria Videira (Mara Cepeda)

Pai


A tristeza

Volta

Fica.

Deixa os olhos

Tristes, cansados

De pensar

De olhar

De chorar.

 

Querem ver ao longe,

Adivinhar.

Buscam a beleza,

A perfeição.

Sonham mundo,

Talvez, melhor.



Maria Videira (Mara Cepeda)

Eu quero verde...


Eu quero verde,

Campo aberto,

Ninguém por perto

Prá perturbar.

 

Eu quero sentir

O poder do vento

Enredando meus cabelos

E correr e dançar.

 

Eu quero tudo que é livre

Quero tudo que vive

Sem se prender

Sem se arrastar.

 

Eu quero verde,

Campo aberto,

E uma árvore

Prá me abrigar.


Maria Videira (Mara Cepeda)

sábado, 25 de janeiro de 2014

É ser sem ser

Sonhos que sonhei
Tudo se fez dia
Que não vislumbro
Por entre a escuridão
Da densa névoa.

Pensamentos solidificados
Impedem ser gente
Todos, robotizados,
Seguem o sem rumo
De trémulos pingentes.

O mar não tem sonhos
Os sonhos não têm cor.
As ondas quebram
Na areia da praia
Sem significação.

É ser sem ser
Na cegueira nocturna,
Eterna névoa dos rios
Desculpa oportuna
Para os meus desvarios.

Maria Videira (Mara Cepeda)

Morte

O mundo parou
Na árvore sem vento.
Que silêncio mortal!

Há morte na vida
Quando pára o vento.

Maria Videira (Mara Cepeda)

Eremita


Na calma

Conturbada

Da rua

Fui atropelada

Pela alma tua.

 

Corei, morri,

Perdida fiquei
 
Socorro pedi
 
E vi o meu mundo
 
onde apenas existo
 
em sono profundo


Quero-te agora,

Mesmo alquebrada,

Sem sonhos,
 
Longínqua e vazia.

 
Que apenas existas

Regaço de mãe

Onde possa esconder-me

Como um eremita

Que alma não tem.


Maria Videira (Mara Cepeda)

Melancolia


Dia que chora

Na manhã sem hora

Na tristeza d’ alma

Que me oprime a calma

Que já não tenho.

 

Chuva

Pinga pingando

Pela noite fria

Sem cria,

Sem amor.

Maria Videira (Mara Cepeda)

És gota de orvalho


O teu mundo emancipa-se.

A tua alma tristemente alegre,

Vai e vem como quem passa

E a praia estende-se pelo infinito

No teu não querer querendo.

 

A libertação do teu mundo,

Transcorre sem contratempos

E o rio que corre vai sozinho

Levando nele os tormentos

De pedra em pedra,

Gorgolejando segredos.

 

Sabes que não és mais do que nada

Peregrino em solitária estrada

Em busca de um caminho

Que já não podes percorrer sozinho.

Parte dele serás, porventura,

Passarinho novo a saltar do ninho.

 

Estendes a mão sem esperança

Alargas o olhar em busca de nada

Anseias tocar a doce alvorada

Que, teimosamente, ainda tarda.

És gota de orvalho

Levemente pousada.


Maria Videira (Mara Cepeda)

Ao luar


No dia que nasce

Na orla do mar

Na ovelha que pasce

Ao relento, ao luar.

 

No azul do céu

Na seara ondulante

Na negritude do véu

De uma vida errante.

 

Sereia enganada

Por príncipe imperfeito

Triste enseada

Em dia sem jeito.

 

Esforço inútil e vão

De imaginar outros sonhos

Que levantem do chão

Meus olhos tristonhos.

Maria Videira (Mara Cepeda)

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Névoa

névoa
nevoeiro
tristeza
pequena gentileza
fugaz lágrima pela face
que a alegria também nasce
de momentos de melancolia

na tarde quase noite
tarda a paz e a serenidade
anseia cama bem feita
nos braços frescos da magia
tudo pode acontecer
se uma lágrima rolar
envolta em prazer

névoa
nevoeiro
maresia
senseno sobre o ribeiro

Maria Videira (Mara Cepeda)



terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Caminho


O teu mundo emancipa-se.

A tua alma tristemente alegre,

Vai e vem como quem passa

E a praia estende-se pelo infinito

No teu não querer querendo.

 

A libertação do teu mundo,

Transcorre sem contratempos

E o rio que corre vai sozinho

Levando nele os tormentos

De pedra em pedra,

Gorgolejando segredos.

 

Sabes que não és mais do que nada

Peregrino em solitária estrada

Em busca de um caminho

Que já não podes percorrer sozinho.

Parte dele serás, porventura,

Passarinho novo a saltar do ninho.

 

Estendes a mão sem esperança

Alargas o olhar em busca de nada

Anseias tocar a doce alvorada

Que, teimosamente, ainda tarda.

És gota de orvalho

Levemente pousada.

 
Bragança, Portugal
Maria Videira (Mara Cepeda)

O pôr-do-sol diz que não

                                    Os homens desconfiam.

 

De esguelha

Na esquina

Esgazeiam o olhar

Que anseia

Menina,

Por te ver passar.

 

O amor é quase uma prisão.

 

Vivem

Enclausurados 

na mais alta torre

De imaginários cárceres 

Castelos medievais.

 

Escavam fossos de proteção.

 

A ferrugem dilacera

A engrenagem

que moribunda

e austera

é disfuncional.

 

O coração ensombrece.

 

A paz

lentamente

escurece.

Os ninhos

descem dos telhados,

Pelas paredes,

quase chão.

 

O pôr-do-sol diz que não.

 

 
Em Bragança, Portugal
Maria Videira (Mara Cepeda)

Desatino


Com melancolia,

No olhar revolto,

Ar de noite escura

No olhar sereno,

Corpo soerguido

No limiar do medo,

Sou o que sou.

 

Destino!

 

Armo o laço

Que lanço.

Sofro a vontade

Insatisfeita

Do desejo contido

No caminho perdido

Nas ondas do mar.

 

Desatino!
 

(Mira, Portugal)
 
Maria Videira (Mara Cepeda)